Há poucos dias eu ouvi alguém comentando que Malhador é um lugar sem história. Eu pergunto: como sem história? Será possível alguém viver desvinculado de uma história? Todos nós somos frutos de um contexto histórico e fazemos a nossa própria história à medida que vivemos, quer queiramos ou não.
Posso até entender por que as pessoas pensam assim. Elas acham que para fazer história têm que participarem de um ato de heroísmo como fez Tiradentes ou D. Pedro I. É claro que o que eles fizeram é história. Isso é inegável. Mas a atitude deles não anula em hipótese alguma a chance de você também fazer história.
Nos últimos anos, tenho tido uma preocupação imensa em registrar tudo o que vi, vivi ou ouvi. E por que essa preocupação? Ora, para que ninguém ouça frase do tipo: “Que história Malhador tem”? De certo ponto, a pessoa que assim falou, não é totalmente culpada. Talvez esqueceram de ensinar a ela que história sempre existe. O que pode ocorrer é a falta de registro dela e, aí, um fato interessante de hoje, mas que não foi registrado cai no esquecimento e com o passar do tempo, foi-se a história.
Pensemos bem. Cada um de nós temos uma história. Agora, imagine o coletivo de Malhador somado. Que enciclopédia, hein?
Quando eu me lembro do meu primeiro dia aula, da casa onde funcionava a escola, da professora que me ensinou o bê-á-bá, dos meus colegas... E daquela árvore que existia à beira do Riacho da Várzea que numa manhã de domingo, não resistindo o peso dos anos e o ataque dos cupins, desabou. Foi um estrondo formidável. Minha mãe pensou que o mundo estava se acabando e nós, meninos, paramos de tomar café e saímos para o terreiro sem entender o que estava acontecendo. Hoje, no alto de meus anos, eu me vejo tomando banho no poço-do-pau, à sombra da mongubeira que não existe mais. Já pensou se alguém com uma máquina fotográfica tivesse tirado uma foto daquela árvore? É verdade que não teríamos mais a árvore, mas teríamos uma foto e isso já seria o suficiente para preencher esse vazio que nós sentimos das coisas passadas e perdidas.
As ruas que nossos filhos trilham hoje, não são as mesmas que nós trilhamos quando éramos crianças. Até poucos anos, não existia nem calçamento. Eu me lembro da Praça Senhor do Bonfim num tremendo areal; do mercado da feira onde hoje é a Secretaria da Educação, ali, era o meu lugar predileto quando eu vinha do Alecrim às segundas-feiras. Havia tantos doces gostosos! Tudo mudou. Tudo se transformou, mas ninguém se preocupou em registrar essas mudanças. E com isso adeus, memória!
Por falar em mudanças, prestem atenção nesse fato: certo dia, um casal de idosos, subia e descia na Praça do Alecrim de Cima. Eles haviam saído de lá há mais de cinquenta anos e, quando voltaram, não sabiam que o Alecrim crescera e, que, agora, em vez ser um, são dois. O casal estava desesperado à procura de um ponto de referência e como não o encontrasse, olhavam para a Serra, mas a Serra era diferente! Sim. Porque quando você olha pra Serra do Alecrim de Baixo, a visão não é a mesma da que você tem quando olha do Alecrim de Cima. Sim, claro, muda-se o anglo, muda-se também a perspectiva, os arquitetos sabem muito bem disso!
Continuo preocupado. Vivo para registrar o que eu vivo. Foi pensando nisso que criei o Blog: www.alecrimcult.blogspot.com.br
Não posso deixar de registrar o que o Alecrim, minha terra natal era antes e o que é hoje. Colabore com a memória do nosso município. Se você quer fazer história e preservar a nossa memória, envie-me uma foto, quanto mais antiga melhor, para que eu possa postar em nosso blog. Pode deixar que, depois de escaneá-la, farei a devolução. Um abraço e muito obrigado. Professor Jilberto, o popular Jilbertão