Cazuza é, inegavelmente, um ícone da música brasileira. Suas letras imortais embalaram e ainda embalam gerações que sonham e lutam por um mundo melhor. Poeta, cantor e compositor, soube fazer como poucos a leitura do nosso passado, seus efeitos no presente e seus reflexos no futuro. Compactuo com muitas de suas reflexões musicais acerca da sociedade, da cultura e da política. Porém, há uma afirmação sua que discordo profundamente. É a que está na letra “ideologia”. Nela ele diz que seus heróis “morreram de overdose”. Aqui está o nosso ponto de divergência: os meus não morreram de overdose!
Considerando algumas figuras da luta social e política, que se destacaram em sua atuação, a militante comunista “Olga Benário”, não morreu de overdose, mas nas mãos dos nazistas que a receberam da ditadura Vargas.
O militante religioso “Frei Tito”, não morreu de overdose, e sim, suicidou-se na França, numa ação última e desesperadora, de se livrar dos traumas causados pela tortura nos porões da ditadura militar brasileira. O mesmo aconteceu com Mariguella, morto em Salvador pelas mãos do sanguinário Fleury.
A militante intelectual “Pagú”, também não morreu de overdose, mas da perseguição do autoritarismo do governo Vargas. Zumbi dos palmares sucumbiu diante do bandeirante Jorge Velho. Chico Mendes tombou assassinado por defender sua classe e denunciar o ataque ao meio ambiente.
São muitos os nossos “heróis” nacionais e internacionais. Mas a imensa maioria deles não morreu de overdose, mas na luta cotidiana para construir um País e um mundo melhor, sendo exemplo para nossos sonhos e nossas lutas no presente e no futuro.